OS MALES DA MOEDA FORTE
As exportações brasileiras, que tiveram excepcional desempenho nos últimos anos, acusam agora o golpe recebido com o real forte. Não só a balança comercial foi prejudicada: a capacidade de competição da indústria brasileira também.
Trinta por cento da produção da confecção de Sônia são exportados. A empresa só conseguiu manter os contratos e os clientes importando matéria-prima. Hoje, de cada dez camisas vendidas lá fora, oito têm tecido importado.
Em 2005, a empresa conseguia ter um ganho de R$ 0,80 por peça. Com a valorização do real, hoje, não sobra nada. “Não está me dando nenhum grande resultado, mas ainda não entrou no prejuízo”, diz Sônia. “Quando começar a bater no zero, a gente vai começar a ver outras formas de continuar”.
Em 2000, o Brasil tinha um saldo negativo na balança comercial ( - US$ 751 milhões). O primeiro superávit, ainda que modesto, veio em 2001 (US$ 2,651 bilhões). Nos anos seguintes, as exportações deslancharam: o superávit chegou a atingir quase US$ 45 bilhões. Mas, neste ano, a estimativa é de que o saldo comercial possa cair para até US$ 40 bilhões.
"Nós estamos deixando de exportar produtos de maior valor agregado, que envolvem mais mão de obra, trabalho intensivo e insumos nacionais, para exportar matérias primas”, analisa o diretor de comércio exterior da Fiesp, Roberto Gianetti da Fonseca. “Isso também é prejudicial para o país, porque passa a ser uma exportação muito mais volátil, muito mais sujeita às flutuações do mercado internacional”.
Pela primeira vez em dez anos, diminuiu o número de empresas brasileiras que vendem para o exterior. No ano passado, entre janeiro e abril, 13,373 mil empresas fecharam contratos de exportação. Meste ano, no mesmo período, o número caiu para 12,475: 900 empresas deixaram de exportar.
Para o empresário Antônio Julio Svetlic, depois de 16 anos no mercado internacional, hoje exportar faz parte do passado. “A nossa última exportação foi com bastante prejuízo, e a cumprimos apenas porque tínhamos o compromisso com nosso cliente no exterior”, conta ele.
No último mês, o dólar subiu 11%, mas para os exportadores, a taxa de câmbio precisa se desvalorizar ainda mais. "Houve essa desvalorização recente, mas ela é insuficiente pra resgatar a rentabilidade das exportações que existia há seis meses, nove meses atrás”, diz o consultor Fabio Silveira.
Quem mais sentiu o golpe foi o setor de manufaturados, principalmente indústrias que empregam muitos funcionários, pagam salários em real e recebem em dólar.
Um exemplo é o setor calçadista. Novo Hamburgo, uma funcionária com 16 anos de experiência em fábricas de calçados está desempregada. Sua filha, que tentou trilhar o mesmo caminho, teve uma carreira de apenas seis meses. “A firma em que eu trabalhava fechou, eles não pagaram ninguém. Só recebi o seguro”, conta.
A indústria ainda é uma das que mais empregam no Brasil: são 300 mil trabalhadores. Mas a crise no setor calçadista já é responsável pelo desaparecimento de 20 mil postos de trabalho.
A região do Rio Grande do Sul que na década de 80 atraiu milhares de pessoas em busca do sonho de mudar de vida, hoje registra um novo fenômeno. Desempregados começam a abandonar o maior pólo calçadista gaúcho: mais de 150 famílias, desde 2005. O dado é da prefeitura de Novo Hamburgo, que criou até um programa para pagar o transporte de quem quer deixar a cidade.
Os empresários dizem que as demissões vão aumentar, e culpam a desvalorização do dólar. Nos primeiros quatro meses do ano, o Brasil deixou de exportar seis milhões de pares. “Se nós não tivermos uma reversão nessa situação, nós chegaremos ao final deste ano com 60 milhões de pares a menos de produção, o que significará, provavelmente, uma diminuição de 25 mil postos de trabalho no Brasil”, diz Heitor Klein, diretor da Abicalçados.
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