BRASÍLIA – As andanças, os negócios, os clientes e os encontros sigilosos do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu por diversos setores da economia, diplomacia e política do Brasil e de diversos países levantam suspeitas de toda ordem e revelam, pelo menos, que ele tem uma ambição: ser um grande “consultor” da América Latina.
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Desde que teve seu mandato de deputado cassado, há um ano, ele já fez viagens para lobby de negócios em países como México, Venezuela, Nicarágua, República Dominicana, Bolívia, Cuba e Estados Unidos várias vezes. Em todas as viagens, faz mistério sobre suas relações.
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São vários episódios que chamam atenção do mercado, da classe política e do Palácio do Planalto – a informação corrente no governo é que o presidente Lula está, de fato, surpreso, intrigado e preocupado com as atividades “empresariais” de Dirceu. Na semana passada, a reportagem ouviu 16 petistas, entre parlamentares e integrantes do governo.
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Mesmo os mais próximos do ex-ministro não souberam explicar os negócios de Dirceu. Mas pelo menos três petistas do círculo de amizade de Dirceu disseram que ele abriu uma grande frente de contatos na América Latina para fazer negócios e usa o prestígio que ainda mantém no governo brasileiro para abrir as portas em outros países.
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Ele estaria à procura de empresas estrangeiras interessadas em investir no Brasil. A oposição olha com desconfiança os negócios do ex-ministro e teme que ele esteja fazendo lobby, com prejuízo para o Estado.
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“O José Dirceu deveria ter mais cuidado. Ele saiu do governo em meio a uma crise, e citado em um grande escândalo. Dirceu está usando o prestígio que tem no governo para fazer negócios”, disse o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ).
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Entre os contatos recentes do ex-ministro, o que mais tem preocupado integrantes do núcleo do governo é sua aproximação com o megaempresário mexicano Carlos Slim, dono da Telmex, maior operadora de telefonia da América Latina. Isso porque essa relação começou quando ele ainda era o todo-poderoso chefe da Casa Civil.
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Um ex-integrante do governo revela que, em 2004, Dirceu trabalhou para uma solução para a venda da Embratel para a Telmex. O negócio, de US$ 400 milhões, corria o risco de não se concretizar por causa da Star One, operadora de satélites da Embratel que presta serviços à área militar brasileira.
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A troca de donos, na avaliação de militares, poderia expor informações sigilosas de interesse do Estado. Pelo relato, Dirceu, então, passou a defender uma proposta pela qual a venda da Embratel seria autorizada, mas, em troca, o governo brasileiro ganharia a chamada golden share.
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Com este instrumento poderia vetar qualquer medida da Star One que contrariasse os interesses do país ou limitasse o uso dos satélites pelos militares. Essa solução garantiu a concretização do negócio com o mexicano Slim, que Dirceu tinha conhecido meses antes num seminário em Campos do Jordão, em 2003.
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Jantar
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A relação entre Slim e Dirceu ficou próxima. O então ministro chegou a participar de um jantar com Slim na Embaixada do México, em Brasília. Um dos convidados contou que o empresário mexicano ficou muito impressionado com Dirceu:
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“O Slim ficou encantado com Dirceu. Por isso, mantém essa aproximação até hoje, já que na condição de ex-ministro tem acesso e toda a memória do governo brasileiro.”
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À reportagem, Dirceu disse que esteve com o Slim duas vezes este ano, quando viajou para o México. Negou qualquer trabalho para a Telmex, mas não descartou negócios futuros com Slim.
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Ele diz que foi ao México à convite de outra empresa, o Grupo Elektra, que trabalha com varejo no México. Também diz que não interferiu na venda da Embratel à Telmex.
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Banqueiros
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Essa aproximação com banqueiros, empresários e lobistas que tinham interesses em negócios com o governo foi uma praxe na Casa Civil, durante a gestão Dirceu. Agora, sem gabinete no Planalto, ele manteve o hábito de encontro com empresários no Brasil e no exterior.
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Há duas semanas, Ancelmo Gois noticiou em sua coluna em “O Globo” que Dirceu tomava café da manhã no elegante Hay Adams Hotel, em Washington. Sabe-se agora, que ele tentava fazer negócios. Na capital americana, esteve com integrantes da J. C. Watts Companies, uma empresa de lobby. Foi num almoço no City Club de Washington.
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Procurado na sexta-feira pela reportagem, o diretor da companhia, J. C. Watts não retornou. Dirceu também esteve com um dos diretores das Câmaras de Comércio dos Estados Unidos, Mark Smith. Foi com ele que tomou café da manhã no Hay Adams.
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Para um amigo, Dirceu relatou que também teria tido um encontro com integrantes do Departamento de Estado dos EUA para a América Latina.
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Em abril, quando esteve na Bolívia encontrou-se com integrantes do governo e da oposição, na véspera da nacionalização das reservas de gás da Bolívia. Ele viajou no jatinho da MMX Mineração e Metálicos S/A, do empresário Eike Batista.
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Na ocasião, o presidente da Bolívia, Evo Morales, proibiu a siderúrgica do grupo brasileiro de operar no país, por não ter licença ambiental. Mas Dirceu nega que tenha viajado para defender os interesses de Eike.
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Circuito internacional
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No circuito internacional, Dirceu teve contatos com presidentes da Nicarágua, Venezuela, República Dominicana, Bolívia, e claro, em Cuba. Mas, alegando sua militância política, Dirceu diz que são contatos políticos.
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No Brasil, ele também tenta manter suas relações com o mundo empresarial. Semana passada, em Brasília, teve uma longa conversa com o presidente da Fiesp, Paulo Skaff. Seu cliente mais antigo é o controvertido empresário Nelson Tanure.
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À reportagem, Dirceu disse que desde que foi cassado presta consultoria para a Casa Brasil, que seria um centro de produção de arte, cultura e debate de idéias do grupo de Tanure, que inclui o “Jornal do Brasil”, a “Gazeta Mercantil” e mais recentemente a rede de TV CNT. Mas Dirceu fala apenas de forma genérica sobre a consultoria que presta ao grupo, além dos artigos para o “JB”.
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Quando está no Rio, Dirceu despacha em escritório cedido por Tanure. Dirceu costuma ressaltar a amizade com Tanure e o executivo do grupo, Paulo Marinho, com quem foi visto recentemente no restaurante Cipriani, do Copacabana Palace.
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À mesa também estava o apresentador e deputado eleito Clodovil, que deve fazer um programa para a CNT. Na emissora de TV, que sofria problema de caixa, a expectativa dos dirigentes do grupo, segundo interlocutores junto ao governo, é de que possa aumentar a publicidade oficial, já que Dirceu acionaria seus amigos. Mas ele sempre nega qualquer influência no governo.
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(Agência O Globo)
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Presidente teme problemas no segundo mandato
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BRASÍLIA - A nem tão discreta movimentação do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu pelo mundo dos negócios passou a ser motivo de preocupação permanente para o presidente Lula.
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As notícias de que Dirceu estaria usando seu prestígio e contatos no governo para iniciar a nova carreira de consultor deixaram o presidente Lula contrariado e apreensivo com os possíveis reflexos dos frutos dessa ação em seu próximo governo. Por recomendação de assessores próximos, Lula se afastou de seu ex-ministro.
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Intrigado com as andanças de Dirceu, perguntou a um petista próximo se ele estaria fazendo lobby, de fato. Outra frente de atuação de Dirceu que tem deixado o presidente contrariado é sua movimentação política no PT.
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Há um mês Dirceu trabalha ativamente pela candidatura do líder do governo, Arlindo Chinaglia, para a presidência da Câmara, contra o desejo de Lula, que prefere a reeleição de Aldo Rebelo.
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Influência
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Lula já identificou que Dirceu continua com grande influência no partido. O ex-ministro sabe que, para se manter influente no governo, precisa continuar com força no PT. “O Dirceu continua com grande influência no partido e mantém amigos no governo”, diz o deputado federal José Mentor (PT-SP), do grupo de amigos do ex-ministro.
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Estratégia
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Ao perceber a estratégia do antigo colaborador, o presidente Lula decidiu não trombar com Dirceu, preferindo, por enquanto, apenas se afastar. O incômodo de Lula não é por acaso.
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O presidente confidenciou a assessores que as movimentações de Dirceu podem trazer grandes problemas para o governo. Principalmente, diz, porque são negócios que o ex-ministro faz questão de não esclarecer.
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Apesar de ter deixado há 18 meses o governo, Dirceu continua com muitos amigos no Executivo. No núcleo do Planalto, ainda mantém trânsito com o assessor especial de Lula, Swedenberger Barbosa, que foi seu secretário-executivo.
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Influência
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Também tem acesso ao ministro Luiz Dulci, que foi secretário-geral do PT na sua gestão. Os ministros Luiz Marinho (Trabalho) e Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) são petistas que são próximos de Dirceu.
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A executiva nacional do PT também é área de influência do ex-ministro, a começar pelo tesoureiro do partido, Paulo Ferreira. Atualmente, além das atividades políticas e de consultoria, Dirceu tenta ser absolvido no Supremo Tribunal Federal da acusação, feita pela Procuradoria Geral da República, de “chefiar a organização criminosa” no escândalo do mensalão.
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E alimenta a esperança de retomar seus direitos políticos com um projeto de anistia, que revogaria sua cassação.
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(Agência O Globo)
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