15.12, 17h22
por Guilherme Fiúza, do site NoMínimo.Lula chorou. De novo. Na primeira posse, foi a emoção do operário que “chegou lá”. E agora? Por que chorou?
.O presidente reeleito disse que foi porque descobriu que o eleitor pobre não precisa mais de intermediários para votar. Mas quem prestou bem atenção às suas palavras e às suas circunstâncias, fica com a impressão de que Lula chorou porque não tem a menor idéia do que fazer daqui para frente. Chorou de medo.
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O menino perdido na tempestade, a imagem de Eduardo Galeano, autor de “As veias abertas da América Latina”, simbolizando o nativo oprimido do continente, é hoje a melhor imagem para o próprio Lula. Seu discurso cada vez mais “bolivarista” – na verdade um mimetismo da retórica populista de Hugo Chávez –, com o qual celebrou o nascente Parlamento do Mercosul, não tem um pingo de consistência. É mais do mesmo – ou mais da mesma retórica aguada usada no chororô da diplomação.
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A emoção de Lula ao dizer que o povo pobre aprendeu a votar com a sua própria opinião, sem fazer o que lhe mandam, tem endereço certo. O presidente está impregnado dessa teoria persecutória de seus auxiliares mais próximos – como o ministro e faz-tudo Marco Aurélio Garcia e o professor-paranóia Bernardo Kucinski – que o fazem acreditar a cada manhã, mesmo antes da campanha eleitoral, que a imprensa burguesa faz de tudo para dinamitá-lo. Depois dos conselhos apocalípticos de Kucinski-Garcia, Lula já começa o dia mal-humorado, revoltado com o golpe imaginário de cada dia da mídia elitista.
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O choro de Lula mistura vingança e pavor. Sem projeto claro para o segundo mandato, rezando para que a conjuntura continue ventando a seu favor, o presidente se abraça à crença de que seu poder emana da força primitiva dos descamisados – e as instituições restantes que tratem de amá-lo ou deixá-lo.
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Na falta de idéia melhor, esse mesmo filão político da conexão com os pobres do mundo dominou o discurso de Lula no nascedouro do Parlamento do Mercosul. O presidente disse que ouve “vozes dizendo que o melhor é fazer acordo com os Estados Unidos”, e responde que, ao invés disso, a aposta no Mercosul significa a opção por uma “política de generosidade e de compreensão”.
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Nunca antes na história deste país se ouviu uma retórica diplomática tão pueril. O chororô da ideologia sul-sul, do pacto nacional e continental dos descamisados, é o que há de mais marcante e inconsistente na era Lula.
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Hoje, o presidente reeleito mostra em diversos de seus movimentos, especialmente no cenário nacional, maturidade de estadista. Tem conseguido evitar, por exemplo, que seu governo vire refém de facções histéricas de seu próprio partido, ou das brigadas fisiológicas do PMDB, todos mal disfarçados de justiceiros do crescimento econômico.
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Mas Lula parece continuar acreditando que sua criptonita é o papel de bibelô da pobreza mundial, o personagem do Lech Walesa que deu certo.
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É um caminho puramente ideológico, segregacionista, cheio de totens bolivarianos vazios e arroubos perigosos como a política de “big brother” do Itamaraty contra os não-alinhados. O presidente precisa entender que é este delírio que poderá, mais tarde, fazê-lo chorar de verdade.
1 Comments:
Lula cada vez mais se distancia da aura de astro pop, para se transformar em um presidente atordoado, acuado e simplório.
O chororô na diplomação não mostra emoção, mas sim pavor pela falta de consistência de seu programa de governo. Sem perspectivas de progresso, Lula joga mais uma vez a culpa em terceiros com seu discurso populista e mentiroso...como sempre.
(Zel)
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