13.12, 11h46
por Rosângela Bittar, no Valor Econômico. Pode-se imaginar o que diria o presidente Lula se fosse um mero espectador do que se passa no país. Um país onde as eleições presidenciais produziram resultados oficiais há 45 dias e, hoje, faltando poucas horas para a diplomação dos eleitos e 19 dias para a posse do presidente da República reeleito, que deveria assumir ungido por um poder descomunal, tal como demonstrado na campanha, o que existe de fato e concreto é que Luiz Inácio Lula da Silva está perdendo popularidade.
.O cenário que se descortina neste país é ímpar: o governo antigo está parado e não existe o novo, apesar de sucessivas reuniões que duram nove, dez horas; não há transição porque não é necessário, houve uma reeleição; ministros atuais sofrem a humilhação da fritura; o presidente é humilhado em reunião internacional por colegas a quem não perde oportunidade de prestar vassalagem; o marketing eleitoral continua na postura e nos discursos, e a impressão é que não há o menor risco de isto tudo dar certo.
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O novo ministério é um mistério. Os intérpretes da vontade do presidente diziam, no princípio, que Lula formaria um governo de notáveis, em que teriam lugar personalidades como Jorge Gerdau e Sepúlveda Pertence. Estes tiveram tempo de recusar o convite presidencial, entre uma e outra data pelas quais salta a promessa de divulgação dos nomes.
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Desistindo dos notáveis, o presidente repetiu em várias ocasiões que o governo está composto e trabalhando, não havendo necessidade de pressa. Só que é grande a instabilidade, não há realmente trabalho algum: de paralisados pela campanha eleitoral, os ministros agora passaram a ficar paralisados pela redefinição dos planos e, principalmente, pela indefinição quanto à sua permanência ou não no segundo mandato. Afinal, muitos são ex-secretários-gerais, substitutos de titulares.
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Ministros que podem ser demitidos (Guido Mantega) estão elaborando planos que o presidente não gosta e manda refazer; ministros cotados para ficar (Marina Silva) sofrem fritura em praça pública e ataques abertos da ministra mais poderosa do governo (Dilma Rousseff), que deveria coordenar todas as atuações ministeriais, inclusive e principalmente as que vivem atualmente em crise.
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Considerada exemplo de eficiência, competência e discrição, a ministra da Casa Civil é o modelo que o presidente Lula, como ele próprio diz a seus auxiliares, gostaria de ver reproduzido em todos os setores. Daí, depreende-se que ela vai ficar. Porém, ela não conseguiu ainda dar um passo para resolver a mais grave crise de gestão pela qual passou este governo de tantas crises, a da aviação civil.
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Enquanto não se resolve este problema agudo, o ministro da área (Waldir Pires) vai também sofrendo dolorosa fritura, e ninguém se importa com a sorte dos usuários do transporte aéreo no Brasil, como se o centro do problema não estivesse na atividade do controle de vôo e, portanto, da vida.
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Os partidos não indicam seus novos ministros do governo de coalizão, mas prometem manter os que estão nos cargos. O próprio presidente vem dando sinais de que gosta desse atual ministério, mas e os resultados, como ficam?
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Um dia, Luiz Fernando Furlan quer sair, no outro aceita ficar se puder nomear o presidente do Sebrae, e, num terceiro, ele deixa o amigo do presidente (Paulo Okamotto) no Sebrae em troca de, finalmente, nomear o presidente do principal banco de fomento do governo, o BNDES, vinculado à sua pasta do Desenvolvimento. Uma proeza que, desde que entrou no governo, não conseguiu realizar. O presidente do Banco do Brasil pede demissão e, a três semanas da inauguração do novo governo, nomeia-se um interino, cujo poder tem alcance limitado.
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O que se observa é mesmo a gestação de um misterioso ministério, do qual só se sabe que não é de notáveis. Ou não..., diria o ministro ainda não reconfirmado Gilberto Gil que, mesmo nesta instável condição, partiu para negociações radicais com artistas e esportistas em torno de verbas de incentivo fiscal, sem que a área econômica ou o Congresso tenham dado garantias de aprovação da iniciativa.
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Multiplicam-se as notícias sobre a deterioração de dados da área social, aquela em que o governo sempre se julgou melhor gestor. Há retrocessos principalmente na Saúde, com o aumento da mortalidade infantil, e da Educação, com a queda da matrícula no ensino básico.
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Políticas inteiras que o presidente imaginava acertadas vêm caindo no conceito interno e internacional. Há um massacre no Sudão e Ongs acusam o Brasil de se omitir no voto de repreensão à tirania africana; o presidente Lula é humilhado pelo presidente da Venezuela e suporta estoicamente a grosseira intervenção de Hugo Chaves, em nome de quê não se sabe, talvez de uma suposta liderança no continente que lhe está sendo subtraída dia a dia. O jamais resolvido caso da Petrobras com a Bolívia, que vai da ameaça de rompimento total dos investimentos ao recuo para investimento total já, beira a esquizofrenia. O novo governo está se deixando desmoralizar antes mesmo de começar, no turbilhão de cultivados equívocos.
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O PT que, por ser o partido do presidente da República é também o principal da coalizão de governo, percebe a geléia geral, não se submete à coordenação presidencial tão declarada há um mês e agora já de refreado ímpeto, e indica que vai levar para o Congresso a confusão que vê no governo.
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O caos do curto período não arrefeceu o marketing, que continua firme, nos discursos e atitudes. O crescimento é de 5% ao ano: como, ninguém sabe; os programas prioritários são 50, quais, uma comissão vai definir; o ministro da Defesa apela à oração para que os aviões não caiam. E até o dia 1º de janeiro, com Natal e Ano Novo no caminho, não deve dar tempo para que Luiz Inácio Lula da Silva recupere a popularidade perdida.
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