Por Percival Puggina
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Zero Hora
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Nosso modelo de democracia é um sumário de contradições e, como conseqüência, tem extrema dificuldade de produzir bons governos. As qualidades que se requerem para fazer dezenas de milhões de votos, por exemplo, guardam nenhuma relação com as virtudes indispensáveis ao bom exercício do poder. Grande massa de eleitores não é seduzível pela verdade. A verdade liberta, sim, mas é uma libertação que vem acompanhada das dores do parto. É mais fácil ser presidente mentindo um pouco e prometendo bastante do que dizendo a verdade e enumerando problemas e soluções amargas. É mais fácil ser presidente atacando o adversário do que expondo com clareza as dificuldades nacionais.
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"Lula é assim como a gente”, disse-me alguém. Essa pessoa votou no presidente, a exemplo de boa parte do eleitorado que lhe deu a vitória, por uma questão de identificação. “É como se fosse um de nós” talvez seja a expressão que melhor caracteriza a relação do eleitor não ideológico com o presidente reeleito. Ora, pessoas assim como eu são pessoas para serem amigas, para tomar um chopinho ou confraternizar num churrasco. Já para exercer o governo do país, sem dúvida o mais complexo e responsável dos encargos, que requer competência, sólida formação moral, capacidade de organização e supervisão, sensibilidade, discernimento, visão de história e de futuro, eu quero um estadista. Virtudes como as que enumerei não se constroem através do marketing nem são compradas em farmácia.
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Se examinarmos o perfil dos governantes que vêm sendo eleitos na América Latina, veremos que o populismo chegou para ficar. É um fenômeno tão evidente que a esquerda percebeu ser mais fácil ascender ao poder pelo voto, lendo Gramsci e fazendo pesquisas de opinião, do que pela via revolucionária. É simpático e não dói. E o populismo é rude, tosco, semi-alfabetizado. Houve aplausos – lembram? – quando nosso presidente proclamou que ler uma revista em inglês é ser colonizado.
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Quando se compara o IDH dos países com os respectivos indicadores de boa governança, abertura econômica, educação do povo, liberdade de imprensa e PIB per capita, saltam aos olhos três coisas: 1ª) os indicadores mais favoráveis andam sempre juntos; 2ª) nações como o Brasil e seus parceiros na América Latina ocupam o segmento inferior de todas as listas; e 3ª) à exceção dos Estados Unidos, os melhores indicadores correspondem a países que não escolhem seus governantes segundo o modelo latino-americano de democracia, cada vez mais favorável ao populismo e à esquerda. Mas é bom saber: esquerdistas e populistas não detêm o monopólio dos bons sentimentos e quem de ambos discorda o faz por divergir dos métodos e não por desprezo à solidariedade e à justiça.
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