A promoção de Lamarca a general de brigada, posto a que por certo jamais chegaria, ainda que tivesse permanecido no serviço ativo, é ato especial dentro dessa campanha do agasalho que os companheiros da luta armada conseguiram montar para benefício próprio. São os novos alquimistas, que transformaram em anos de ouro os anos de chumbo que provocaram.
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Uma coisa é o clube em si mesmo, constituído para nadarem de braçada na piscina dos recursos públicos onde se derramam os impostos que todos pagamos e para cujo montante eles foram, ademais, dispensados do dever de contribuir. As indenizações e pensões que recebem, isentas de Imposto de Renda, são servidas no restaurante do clube limpas como filé de lagosta.
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Certo líder metalúrgico, após liderar greve no ABC paulista em 1981, passou alguns dias na cadeia. O episódio lhe valeu uma loteria paga em prestações vitalícias de 3,3 mil reais. Bem sucedido jornalista gaúcho foi agraciado com pensão de 10,7 mil reais aos quais agregou bolada extra de um milhão e meio. Um engenheiro da mesma praça ganhou manchete com seu troféu: turbinou a pensão que já vinha recebendo, no valor de 4,4 mil reais, para 10,7 mil reais e foi premiado com mais 1,3 milhão. Conhecidíssimo jornalista carioca, alegando ter sido demitido em 1965 do jornal onde trabalhava, abiscoitou aposentadoria de 23 mil e um milhão de bônus. Já são mais de 10 mil os membros e passam de 50 mil os candidatos a sócio do clube que aguardam despacho da comissão constituída no Ministério da Justiça.
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Não nego que certas indenizações sejam devidas, embora constituam uma novidade na política dos povos após conflitos internos sucedidos por anistia geral. Mas os montantes e critérios ferem a razoabilidade. Se a moda pega, teremos que promover ajustes com as vítimas do Estado Novo e com os familiares dos degolados de 1923. Faltaria papel no mundo para imprimir o dinheiro necessário a indenizar os cem milhões de mortos do comunismo e os pensionistas de seus cárceres. E eu frito no dedo se haveria anistia ampla geral, irrestrita e generosamente indenizatória se Lamarca e seus companheiros da luta armada, treinados para "defender a democracia" em Havana, Moscou e Pequim, tivessem sido vitoriosos em seus intentos revolucionários.
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Como disse acima, isso é uma coisa. Outra, porém, é o caso Lamarca, porque a promoção de um desertor fere a carreira e a hierarquia militar. Trata-se, aqui, de um ato contra as Forças Armadas. Mas também isso vai passar batido no festival de escândalos urdidos para desmoralizar a alma nacional. Você talvez não perceba, leitor, mas são os seus valores e seus direitos que, a cada dia, estão sendo meticulosamente esfacelados.
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Percival Puggina
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