1. Do ponto de vista político a América Latina pode ser dividida em dois blocos. De um lado a América Central e México. Do outro a América do Sul, e dentro desta em três blocos. Curiosamente, no ex-vice-reinado da Nova Espanha, incluindo California e Texas, onde os republicanos governam, o quadro político é homogêneo.
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2. No México venceu Calderón, do PAN, partido à direita, ligado à poderosa Igreja Católica e articulado com o Partido Republicano dos EUA. Com isso, o governo Fox tem desdobramento. As ações radicais do PRD de Lópes Obrador criaram constrangimentos na transição e na posse, mas só fizeram reforçar politicamente o PAN, como mostram pesquisas, num eleitorado que a exceção da capital, nada tem de esquerda. As eleições aos governos de estados só ratificaram isso. O NAFTA -tratado de livre comércio entre México, Estados Unidos e Canadá- só se fortalece. O PAN conta com 41% dos deputados e em questões que isolam o PRD, contará com o PRI.
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3. O CAFTA -tratado de livre comércio entre Estados Unidos e a América Central, está generalizado com a eleição na Nicarágua. Daniel Ortega -lider sandinista eleito presidente- estabeleceu acordos formais com as forças historicamente à sua direita e a Igreja Católica, que não permitirão radicalismos. Na sexta-feira seguinte à eleição, com apoio da bancada sandinista, foi aprovada a mais radical lei de proibição de aborto existente no mundo todo, com proibição de todo e qualquer caso sem exceção. O acordo político incluiu o TLC/Cafta, e foi dito em praça pública e na TV, várias vezes. O FSLN elegeu a maior bancada, mas seus 38% exigem respeito aos acordos. Seu vice-presidente -Carazo- é homem da direita e líder dos Contra que lutaram com armas na mão contra os sandinistas nos anos 80, e de confiança do governo dos EUA.
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4. Quanto aos TLCs -tratado de livre comércio- falta apenas a Costa Rica, que certamente o aprovará embora com ruídos que a oposição produzirá. Mas a tradiconal estabilidade da Costa Rica não gera qualquer preocupação em qualquer caso.
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5. O quadro na América do Sul é completamente diferente. Pode ser dividido em três partes. De um lado Venezuela, Argentina, e Bolívia, onde estão estabelecidas as bases de um priismo (PRI, partido único no México durante 70 anos), incluindo a hegemonia parlamentar forçada e o nacionalismo cinquentão. Na Venezuela se conseguiu isso com um golpe branco criando-se uma constituinte no início do primeiro governo no auge da popularidade de Chávez. Na Bolívia se segue esse caminho. Na Argentina se conseguiu o mesmo através da cooptação dos parlamentares de outras forças e de uma super-lei-delegada, que dá poderes ditatoriais a Kirchner.
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6. O Equador ainda é uma incógnita apesar da retórica do presidente eleito Rafael Correa. Com o estilo batizado por politólogos nos últimos anos como anti-política, venceu, sem partido, sem deputado, e terá que ir cooptando parlamentares progressivamente. Fala em Constituinte chavista mas não tem força para isso. Se tentar um plebiscito pode ser desestabilizado a curto prazo pela derrota. O que poderia conseguir de tributação sobre o petróleo foi esgotado por uma lei aprovada em abril de 2006. A economia é dolarizada radicalmente. Circulam dólares apenas. Desmontar a dolarização significará o risco de uma alta inflação. O TLC está quase aprovado. Esse ele pode desmontar o que significará responder aos setores industriais irrelevantes e a um discurso ideológico. Não seria surpresa a este Ex-Blog, se Correa progressivamente, trilhasse o caminho de Fujimori, que foi eleito nas mesmas circunstâncias e que se desviou a uma trilha autoritária-populista-tecnocrática, desmontando os partidos e alterando as promessas de campanha.
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7. O Perú, a Colômbia, o Uruguai e o Chile, formam outro bloco. Mesmo sendo governos de características políticas distintas, eles expressam a previsibilidade das ações governamentais. O Perú com o novo Alan Garcia, recebeu um país com economia arrumada, com as melhores taxas de crescimento a médio prazo na AL, e com os melhores fundamentos macro-econômicos. Toledo -que governou com enorme taxa de impopularidade provenientes dos casos pessoais em que se envolveu, terminou o governo por força da economia, com índices altos de popularidade e transferiu a seu sucessor a herança que todos querem receber. A Colômbia ratificou Uribe. Os três países tem TLC assinado e vigindo, com os EUA. O Uruguai tem sido uma surpresa com Tabaré Vasquez. Afastou-se da retórica populista, negocia o TLC, tem uma distância prudente do novo Mercosul, conquistou o apoio do Banco Mundial no caso das fábricas de celulose (conflito com a Argentina), que representarão um investimento de mais ou menos cinco vezes o PIB uruguaio. O Chile -como sempre- é o destaque na América Latina por seu comportamento e é política e economicamente desenvolvido.
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8. Restam Brasil e Paraguai. Brasil -com o PT autêntico e seus efetivos aliados, com no máximo 20% do Congresso- tem limites a suas travessuras. Surfando políticas hibridas -conservador monetariamente, assitencialista para dentro e populista para fora- não aponta mais que a rolagem do quadro atual. Depois dos 8 anos, o eleitor brasileiro chegará a conclusão que o país ficou -parado em sua dinâmica. O Paraguai -sempre próximo do Brasil- dá passos importantes no sentido de se tornar uma democracia crível. Seu maior entrave são as taxas de corrupção endêmicas existentes, que se não forem substancialmente reduzidas, não permitirão uma sinalização estratégica positiva. Com o quadro boliviano, tornou-se uma peça importante na geo-politica dos EUA, que se o Paraguai aproveitar bem poderá ter ganhos significativos. O exemplo da Bolívia e a passividade brasileira relativa, estão entusiasmando o Paraguai a pedir revisão dos acordos de Itaipú.
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Ex-Blog do Cesar Maia
07/12/2006
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