ENTREVISTA POLÊMICA POR CAUSA DE UMA PALAVRA: "MIGRAÇÃO"
SPTV: O senhor assinou um documento, em cartório, prometendo ficar na prefeitura de São Paulo até o fim do seu mandato, mas deixou o cargo para disputar o governo do Estado, como é que o senhor pretende convencer o eleitor de que a sua promessa é pra valer?
José Serra: Acho uma boa pergunta, desde logo eu não assinei em cartório, foi durante uma entrevista. Vou dizer de maneira bem sincera, naquela época, eu disse a verdade, totalmente a verdade do que eu pensava, fui bastante sincero. O que houve de lá para cá foi uma mudança das circunstâncias, eu percebi, na prefeitura, quando nós colocamos a casa em ordem, a situação estava muito atrapalhada, quão importante é o Estado para a prefeitura. Segurança, saneamento, transporte de metrô e trens. Tudo isso é exclusivo do Estado. Sem falar que metade da educação, metade da saúde e mais do que metade da habitação. Neste sentido, o trabalho do Estado é crucial para a prefeitura de São Paulo. Quando eu entrei tinha um convênio só entre Estado e prefeitura, quando eu saí já tinha 30. Essa cooperação é crucial para o bem da população de São Paulo. Então eu achei que poderia ajudar muito mais a população, tendo um prefeito parceiro, que foi o meu sucessor e trabalhando muito em função destas questões. E tem mais, Chico, no ponto de vista pessoal, uma vez que nós pusemos a casa em ordem na prefeitura, eu podia estar curtindo a melhor avaliação que um prefeito já teve.
SPTV: O senhor não chegou a cumprir as promessas de sua campanha, até mesmo porque o senhor permaneceu muito pouco tempo, apenas um ano na prefeitura. No caso dos ônibus, as reclamações cresceram muito, os paulistanos avaliaram negativamente.
José Serra: Carla, nós avançamos muito, veja só: eu prometi fazer o Bilhete Único, integrado, metrô e ônibus, nós fizemos. Eu prometi colocar as ruas mais em ordem, nós fizemos. Mais pavimentação e recapeamento em um ano e meio do que as prefeituras anteriores em quatro anos e, mais do que isso, 90% da minha equipe continua trabalhando lá e vai ficar até o fim do mandato, trabalhando naquela direção. Vocês mostraram agora o shopping popular, que foi fruto da minha gestão, a prefeitura continua trabalhando firme nessa direção.
SPTV: Candidato, se eleito governador, o senhor vai ficar até o fim ou pode achar que está tudo arrumando e sair candidato?
José Serra: Chico, 2010 está muito longe, nem você sabe onde você vai estar, mas o que eu vou fazer daqui até o final do mandato do governo do Estado é trabalhar bastante, pra corresponder à expectativa, segurar as pessoas em São Paulo, caso eu seja escolhido.
SPTV: Candidato, uma grande preocupação dos paulistas, a segurança pública, a cidade acaba de sofrer mais uma série de ataques dos bandidos. Isso não surgiu de repente, isso surgiu nos últimos 12 anos que foram do governo do ser partido, o PSDB. O PSDB errou na sua avaliação? Na administração da segurança pública?
José Serra: Olha, houve avanços na segurança de São Paulo. Primeiro a polícia passou a prender mais, basta dizer que São Paulo tem 25% da população do Brasil e tem 40% dos presos. A polícia prende mais. Quando o (Mario) Covas entrou no governo, tinha uns 40, 50 mil presos, hoje está perto de 150 (mil). Homicídios, nos últimos anos, a taxa de homicídios caiu pela metade. Houve avanços na segurança, equipamento, um esforço enorme. Novos problemas apareceram, é sempre assim, quando você resolve um problema, aparece outro. Superpopulação carcerária, desenvolvimento do crime organizado nas prisões. È isto que nós temos que enfrentar agora, com muita determinação. Eu já enfrentei multinacionais, já enfrentei países na questão dos remédios, já enfrentei laboratórios, já enfrentei indústria dos cigarros.
SPTV: O senhor manteria esta linha da segurança pública?
José Serra: Vou enfrentar o crime organizado com toda a disposição, com toda a minha experiência, com toda a minha capacidade.
SPTV: O senhor enfrentaria tendo como secretário o senhor Saulo de Abreu? O senhor manteria ele no cargo?
José Serra: Eu estou disputando a eleição para ganhar, não estou nomeando secretários. Qual vai ser minha equipe, Chico, eu vou ver depois. Vai ser uma nova equipe em todas as áreas, mas isto eu só vou fazer depois de ganhar, porque dá azar ficar nomeando gente antes da eleição.
SPTV: Nós temos uma outra questão seria em São Paulo, que é a questão do ensino, que é a baixa qualidade da educação. São Paulo foi reprovada em educação, nas provas Brasil, Saebe.
José Serra: Não chegou a ser reprovado, chegou a ter 7º, 8º lugar, que não corresponde. Não é reprovação, no sentido que não é abaixo da média do Brasil. Agora, tem que entender o seguinte, diferentemente dos Estados do sul, que são os que têm melhor situação, São Paulo tem muita migração. Muita gente que continua chegando, este é um problema. Houve uma expansão quantitativa muito grande do ensino. Agora eu acho que a gente deve olhar para frente e enfatizar a qualidade, o que eu fiz na prefeitura e vou fazer no Estado? Colocar duas professoras por sala de aula, no primeiro ano do ensino fundamental. Isso é crucial para que as crianças aprendam. Eu não quero nenhuma criança passando de ano sem aprender aquilo que deve aprender naquele ano.
SPTV: Candidato, então me permita contestar. Dois professores na sala de aula, hoje a gente tem em média, chega até 50 alunos na sala de aula, a maior parte do dinheiro na educação, hoje, a maior parte é para pagar os professores, mais de nove bilhões para pagar os professores que já estão, quer dizer, este número chegaria a dezenove bilhões para pagar este segundo professor em sala de aula. De onde vai sair este dinheiro?
José Serra: Carla, na prefeitura, eu dei aula toda semana, eu sou professor, fui a vida inteira professor. Eu fui dar aula todas as semanas, na terceira ou quarta série, mudando de escola, justamente para entender o problema. Esta segunda professora é estudante universitária, de pedagogia ou de letras, não como voluntária, ganha, mas é um salário inicial, é uma assistente. A prefeitura já fez em quase metade das escolas, isso é perfeitamente viável do ponto de vista financeiro e vou dizer pra vocês, é meu grande desafio, melhorar a qualidade da educação e levar até a escola técnica, que também é fundamental para oportunidades no mercado de trabalho.