07.01, 15h16
Editorial do Jornal do Brasil.Para um Congresso mergulhado numa desmoralização sem par na história, não chega a ser surpreendente. Mas, para um país que deseja a recuperação moral e política da mais democrática de suas instituições, é lamentável o espetáculo protagonizado pelos pretendentes à presidência da Câmara e do Senado.
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Só em parte o lamento aqui registrado se deve à fragorosa disputa entre dois deputados da base de apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - engalfinhamento que tem tudo para implodir a coligação governista antes mesmo de sair do papel. A divisão entre Aldo Rebelo (PCdoB-SP), atual ocupante que tenta a reeleição, e Arlindo Chinaglia (PT-SP) responde apenas por uma parcela de uma campanha interna de nível ralo. Dessa novela enfadonha, o mais grave é não se ter ouvido nenhuma idéia relevante para o Brasil, tampouco uma saída destinada a refazer a espiral descendente em que o Parlamento imergiu na última legislatura.
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Como votarão apenas suas excelências, é como se a eleição agendada para fevereiro nada tenha a ver com o Brasil da planície - as multidões de brasileiros indignados com a combinação entre privilégio, corporativismo, banditismo, incompetência e inércia. Foi assim nos últimos anos, e assim tem sido nesta fase pré-eleitoral: Quando tratam dos próprios interesses, as elites políticas costumam agir de modo indiferente à desmoralização da instituição parlamentar.
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Disputas internas no Congresso têm muito mais a ver com o país do que parecem pressupor os candidatos. Basta citar, por exemplo, a recente conquista da maioria do Partido Democrata no Parlamento dos EUA. A tomada de controle da Câmara de Representantes e do Senado, consumada depois de 12 anos de domínio dos republicanos, tem conduzido a Presidência de George Bush a um processo de mudança considerável - da revisão de rumos no Iraque à decisão da Casa Branca sobre o salário mínimo dos trabalhadores americanos.
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Nossos congressistas, porém, permitem-se o luxo de resumir a campanha aos conchavos entre caciques, único artifício reconhecido por suas excelências para atender ao pantagruélico apetite da tigrada. Nisso o Executivo tem responsabilidade e poderá pagar caro se repetir os equívocos de dois anos atrás.
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No primeiro mandato, por preguiça ou inépcia no manejo das rédeas, o presidente Lula perdeu o controle sobre sua base parlamentar - a começar do próprio PT. Resultou no definhamento da agenda legislativa do governo, no parto da montanha que foi cada uma das reformas ministeriais do primeiro mandato e, vexame dos vexames, na eleição de Severino Cavalcanti para a presidência da Câmara.
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Engolfado pela divisão do butim para o segundo mandato, o Planalto atua para que os erros não se repitam. Lula sabe dos riscos. Reconhece também que só conseguirá evitar o desastre se um dos competidores desistir em favor do outro. Lamente-se, entretanto, que não esteja na pauta da mediação do Executivo o revigoramento moral há muito perdido pelo Congresso.
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Parlamentos fracos só interessam a governantes aventureiros, autoritários ou populistas - como informam os exemplos de Alberto Fujimori, no Peru, e Hugo Chávez, na Venezuela. O Parlamento, ademais, não pode funcionar feito mero apêndice do Palácio do Planalto, como fez João Paulo Cunha, ou da tigrada nanica, como Severino Cavalcanti.
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Por essa razão é tão relevante que os eventuais comandantes do Congresso mostrem o que pensam e desejam da Casa que pretendem dirigir e do país que esperam representar. Do jeito que está, nada mais fazem do que mandar às favas a democracia à beira do precipício.
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