29.11, 11h18
Valor Econômico
.A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) foi a maior doadora à campanha da reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A mineradora, privatizada em 1997, doou R$ 4,05 milhões ao comitê financeiro do PT, que repassou ao caixa da campanha do candidato. A prestação de contas da campanha petista foi entregue ontem ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
.As doações legais foram feitas por meio de duas empresas controladas pela Vale do Rio Doce. Por lei, a mineradora não pode fazer doações diretas porque ela é dona de concessões público no setor de ferrovias. Por conta desta limitação, o dinheiro foi entregue pela Caemi e a Minerações Brasileiras Reunidas (MBR).
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A Vale do Rio Doce, presidida por Roger Agnelli, também foi a empresa que mais financiou candidaturas vitoriosas à Câmara Federal, elegendo 46 deputados, conforme levantamento realizado pelo Valor no último dia 10. No Legislativo, a Vale havia gasto R$ 5,3 milhões.
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Empreiteiras (Camargo Corrêa, OAS e Andrade Gutierrez), bancos (Itaú, Bradesco, ABN AMRO Real e Unibanco) e siderúrgicas (CSN e Gerdau) voltaram a figurar no topo da lista dos maiores doadores de campanha do candidato a presidente.
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Uma das surpresas na lista dos contribuintes da campanha do PT foi a aparição da Cutrale, segunda maior doadora. A empresa, maior fabricante de suco de laranja do mundo, doou R$ 4 milhões ao cofre do candidato do PT. Outra novidade foi a presença maciça das usinas de açúcar e álcool entre os financiadores. A Coopersucar, maior cooperativa do setor, destinou R$ 1,28 milhão. Embora os valores sejam inferiores a R$ 500 mil, pelo menos cinco usinas - Cosan, Caeté, Moema, Dedini e Cerradinho - destinaram entre R$ 374 mil e R$ 50 mil ao candidato reeleito.
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Ao contrário da eleição de 2002, a Coteminas, indústria têxtil ligada ao vice-presidente da República, José de Alencar, nem sequer apareceu neste ano na lista do TSE. Em 2002, a empresa havia sido a maior contribuinte da campanha do candidato petista, com R$ 2,4 milhões.
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No rol das doações pessoais, os irmãos Pedro e Alexandre Grendene tiraram R$ 1 milhão, cada um, de suas fortunas para bancar a campanha. O valor foi superior até ao montante destinado pela empresa calçadista controlada por eles: R$ 320 mil.
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O empresário Eike Batista, dono da holding EBX, também tirou R$ 1 milhão do próprio bolso. Na campanha passada, sua então mulher, a modelo Luma de Oliveira, havia sido a maior doadora como pessoa física da primeira vitória de Lula em 2002, com R$ 27 mil.
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Executivos da Petrobras também ajudaram a financiar a campanha do PT. O presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, e o diretor da área de gás, Ildo Sauer, contribuíram R$ 20 mil e R$ 22 mil.
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Empreiteiras que prestam serviços à Petrobras também estiveram presente. entre os doadores A FSTP Brasil, consórcio responsável pela construção de plataforma de petróleo, e a Companhia Nacional de Dutos, que faz montagem de oleodutos e gasodutos, contribuíram com R$ 2 milhões e R$ 1 milhão.
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No primeiro escalão do governo Lula, os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, também deram sua cota: R$ 2 mil e R$ 4 mil.
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As receitas arrecadadas pelo PT foram insuficientes para cobrir os gastos da campanha. O partido fechou a campanha eleitoral com dívidas de R$ 9,8 milhões. O PT arrecadou R$ 93,4 milhões e gastou R$ 103,3 milhões.
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O candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, derrotado no segundo turno das eleições presidenciais, também deixou para trás um rombo no caixa, que totalizou R$ 19,9 milhões. A campanha tucana arrecadou R$ 62 milhões e gastou R$ 81,9 milhões. Ao todo, os candidatos do segundo turno da eleição presidencial gastaram R$ 185,2 milhões. Deixaram uma dívida de R$ 29,7 milhões. A dívida será assumida pelos partidos.
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Apesar das dívidas, os gastos de campanha estão dentro das previsões feitas pelos presidenciáveis ao tribunal. A campanha de Lula previu gastos de até R$ 115 milhões. Alckmin fixou um teto de R$ 95 milhões.
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Os gastos deste ano foram muito superiores às eleições anteriores. Em 2002, Lula gastou R$ 33,7 milhões. Ou seja, o presidente gastou três vezes mais para se reeleger, neste ano.
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Já o adversário de Lula, em 2002, o tucano José Serra, gastou R$ 34,4 milhões naquela campanha. Agora, o PSDB saltou para R$ 81,9 milhões. É mais do que o dobro dos gastos de Serra. Em 1998, na campanha pela reeleição, o presidente Fernando Henrique Cardoso gastou R$ 45,9 milhões.
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A diferença entre a prestação de contas atual e as anteriores é que, agora, há um rigor maior contra o caixa 2 e os partidos tiveram que encaminhar informações detalhadas sobre as suas despesas e receitas. A atual Lei Eleitoral prevê a cassação do diploma do candidato que não cumprir com as suas metas financeiras.